A maternagem, a criação com apego e o Montessori da mãe pobre: criando os filhos com muito amor e pouco dinheiro


Meu blog tem, aproximadamente, quatro anos de existência. 


Nesses quatro anos, procurei ao máximo relatar a minha vivência, enquanto mãe, enquanto militante feminista, enquanto mulher universitária e trabalhadora que enfrenta muitas adversidades na vida. Com o tempo, as pessoas passaram a ler o que eu escrevia - algo que eu achei que jamais iria acontecer - e, nesse ínterim, eu conheci a blogosfera materna e paterna. Conheci muitas teorias, pensamentos, ideias diferentes, e a troca foi maravilhosa. Mas MUITO, MUITO do que essa blogosfera materna e paterna vende, não é relacionado com a realidade de muitas mães e pais - incluindo a mim.

Nessas aventuras em série que é de fato se aventurar ao mundo blogueiro sobre criação de filhos, me embaralhei em conceitos que a primeiro momento, eu não entendi patavinas: maternagem, criação com apego, Montessori no lar, alimentação natural, amamentação exclusiva, amamentação prolongada. Tudo isso era muito novo pra mim ainda. Como uma boa pesquisadora, fui procurar saber o que era cada coisa, e principalmente - porque isso faz diferença - quem fazia cada coisa. 


Nas minhas pesquisas, eu confesso ter ficado encantada com a multiplicidade de descobertas no que diz respeito à criação de filhos (e ainda sou). Os novos conceitos, principalmente para mim, que fiz Magistério e sou professora, foram incorporados de maneira quase instantânea. Paixão a primeira vista. O problema era: até que ponto isso era praticável na minha vida e na vida do Gael?


Gael nasceu prematuro. Com 34 semanas e necessidade de ganho de peso, ele precisou fazer complemento desde a maternidade. Na UTI, ele já tomava leite artificial. Sempre vivemos uma vida muito corrida. Engravidei no segundo período da faculdade, e a universidade me deu apenas 4 meses de licença maternidade com um filho prematuro. Como já relatei em outros textos, pra mim era muito difícil entrar na sala de aula com um bebê que chorava e eu não me via confortável para carregar o bebê no colo e fazer as anotações ao mesmo tempo. Era um clima constrangedor. Consequentemente, com 4 meses Gael precisou ir para a creche. Com dor no coração, porque precisava estudar para garantir o meu futuro e o dele, ele precisou de mais algumas mamadeiras do leite artificial, enquanto eu estava fora. Retirar o leite materno não era tão complicado: a bombinha era quase o preço do leite, os vidrinhos de armazenamento também não eram baratos, o tempo de armazenamento era curto e a temperatura, se variasse, poderia prejudicar a qualidade do leite. Morria assim o primeiro conceito bacana que eu admirava: a amamentação exclusiva.

Como eu sempre fui mãe solo desde o nascimento do meu filho, ele sempre passou um dia do final  de semana com o pai (hoje, são dois). Pra mim, isso era muito tortuoso, a medida que meu leite empedrava, eu sentia dores horríveis e não sabia o que fazer com tudo aquilo. Como comecei a trabalhar (também longe de casa) e estudar à noite, era inviável para mim manter a amamentação do Gael. Eu comecei a sentir a necessidade do corte. E com 1 ano e 3 meses, desmamei meu filho. Foi difícil pra mim e até hoje, não sei se fiz o correto. Eu amava amamentar e talvez, com um próximo filho, gostaria de fazer diferente. Mas ia pelo ralo minha tentativa de amamentação prolongada.

Poderia citar aqui inúmero motivos por não praticar o Montessori no lar. Inclusive, indico a quem quiser saber mais o excelente blog do Gabriel Salomão, o Lar Montessori, que explica o método passo a passo e também têm vídeos no Youtube. Fui lá para saber mais e também entender se aquilo era prático na minha vida ou não. E o próprio Gabriel explica o que eu já suspeitava desde o meu Ensino Médio Normal, no curso de Magistério: o Montessori não é elitista, mas é profundamente elitizado. E é.

Ambiente Montessori

Em resumo básico e geralzão, o método montessoriano constitui alguns princípios onde a criança aprende sozinha a partir de seu próprio desenvolvimento. Os pais e/ou professores são apenas facilitadores ou auxiliares nesse processo. O que acontece, na prática, é que é o X da questão. Desenvolver uma autoaprendizagem requer espaço, coisas à altura e do tamanho da criança (isso é essencial), tempo da mãe ou pai para se dedicar à facilitação desse processo de aprendizagem, dinheiro para modular ou remodular móveis e instrumentos que seriam mais baratos do nosso tamanho, e se possível e bem mais eficiente, condições financeiras para que a criança também esteja em uma escola montessoriana, fazendo a conexão aderente entre escola e família. 

Isso tudo demanda, além de tempo, dedicação e espaço, poder aquisitivo. Eu não tenho um quarto MEU aos 23 anos. Meu filho também não tem. Ele não tem cama, quanto mais um espaço Montessori. Pra uma mãe que tem pouco dinheiro e pouco tempo, até bater um prego numa prateleira na parede é complicado.


(Essa história de "quem quer, consegue" é muito linda e prática, se não houvesse uma sociedade do consumo perversa, uma tributação fiscal absurda e pouquíssimo investimento do governo na Educação, ainda mais na Educação Infantil.)

Sobre a maternagem e a criação com apego... Muitas das coisas são, em tese, praticáveis para qualquer pessoa. Afeto, atenção ao que a criança fala, percepção dos desejos e vontades do seu filho e colo em livre demanda são coisas perfeitamente cabíveis à muitas mães e pais. A questão é: será que todas as mães e pais tem condições psicológicas, psicoafetivas, familiares e estruturais para desenvolver uma criação assim?



Será que uma mãe aos 16 anos, que tem inúmeros preconceitos e muitas vezes falta de apoio familiar e do pai, tem condições de prontamente, estimular a maternagem? Será que ela tem uma rede de apoio que a ajude na conquista de sua maternidade?

Será que uma mãe solo, em tripla jornada, consegue dar colo em livre demanda enquanto faxina uma casa sozinha, ou está trabalhando e/ou estudando, mesmo em home office?

Será que uma mulher, no interior do Nordeste, no seu sétimo ou oitavo filho, têm condições de exercitar plenamente uma criação com apego?

Existem muitas questões envolvidas nestes processos. Embora maravilhosos e inovadores, colocando uma nova interpretação de infância e um novo modo de experimentar a criação dos filhos, ela nem sempre é acessível à todos. A preocupação com a gestação, conscientização do parto, comunicação verbal e não verbal com o filho intrauterino é realmente relevante, mas para muitas mães, ela não é praticável. Principalmente para uma mãe pobre que, respaldado pelo sistema público de saúde, muitas vezes tem um pré-natal precário e sofre violência obstétrica. O trabalho da doula, que esclarece o pré e pós parto e acompanha de forma importante a gestação, é lindíssimo (inclusive, tenho o sonho secreto de ser uma), mas para quantas pessoas ele é acessível? O SUS, por, exemplo, ainda não conta com esse serviço, e a grande maioria das mães brasileiras não têm condições de pagar por ela.

Para além da doula, a conscientização do parto humanizado, da importância da gestação e do puerpério ainda é muito rarefeita, escassa. No Sistema Único de Saúde, embora o parto natural seja estimulado, ainda o é de forma errônea e equivocada, resultando na violência obstétrica de inúmeras mulheres a partir do uso de fórceps - que é responsável pela fratura da clavícula de muitos recém-nascidos -, episiotomia desnecessária e desrespeito à mulher parturiente. 


Mesmo com crianças maiores, ainda não é majoritária a porcentagem de mães que tem uma rede de apoio à sua disposição. A grande verdade é que para a maioria das mães, a maternidade muitas vezes ainda é uma prisão, um trabalho sem remuneração afetiva nem reconhecimento. A maternagem é muito fácil de ser exercida com estrutura emocional. A criação com apego é muito fácil se amparada por um apoio maior. E, infelizmente, em muitos casos esse apoio e estrutura vêm, diretamente atrelados à melhores condições financeiras.




Em alimentação natural, nem se fala! A comida mais barata é sempre a mais industrializada. A educação alimentar, as famosas 5 cores no prato e os produtos orgânicos são um sonho de consumo, mas a expressão fala por si só: de consumo. E o consumo nem sempre é accessível à todos. Os produtos orgânicos são quase sempre, os mais caros. Muito bacana e gostoso colocar queijo minas com tomatinho cereja no sanduíche da escola, mas vocês sabem o quanto custa um tomate cereja? Sem falar no queijo, que é caro! E muitos legumes e frutas ainda são mantidos em preço alto. Infelizmente, os alimentos mais baratos ainda são salsicha e mortadela.


Isso tudo, sem falar no mais básico: a maioria das mães pretas, pobres e faveladas não faz a menor noção do que é maternagem, criação com apego, alimentação natural, amamentação prolongada. Muitas as praticam sem saber, a grande maioria ensina os filhos da forma com a qual foram educadas. É claro que o desejável seria que essas informações chegassem à todas elas, mas aí é que está: ELAS NÃO CHEGAM. E o que fazemos para de fato disseminar essas informações? Será que fazemos algo? Ou será que ainda é muito mais confortável para a nossa vaidade manter isso elitizado, para as mães e os pais da elite e da classe média alta, enquanto fazemos nossos posts lacradores e as enfermarias das maternidades do SUS estão repletas de partos normais induzidos sem consentimento e educação básica pública extremamente defasada? Será que isso tem a ver só com os nossos filhos? Ou a gente só mantém isso para a classe média, porque é mais fácil apitar uma redução da maioridade penal para as crianças da favela, ou achar que uma UPP e um campo de futebol sem infraestrutura já é investimento social suficiente?

Acredito sim, que esses conceitos tenham emergido nesse momento para melhor, e que podem contribuir e muito para a formação de seres humanos melhores, de uma infância mais livre e produtiva. Mas, pelo menos para mim, ela ainda não é acessível. E para muitas mães, também não é. E talvez seja nesse ponto que a gente deva tocar.

Talvez a maternagem já seja praticada, mas com um nome diferente.
Talvez a amamentação prolongada já seja exercida, como um método que a mãe da favela tem de ficar mais próxima do seu filho.
Talvez a criação com apego não seja uma doula na gestação, mas fazer o dever de casa com o filho depois de 8 horas de trabalho.
Talvez a alimentação natural não seja o suco de lichia ou o brócolis orgânico, mas seja arroz, feijão e ovo cozido.

Será que estamos considerando as diversas nuances desses conceitos?

Fica aí os questionamentos.



Comentários

  1. Karoline, bom dia. Sou mãe, tenho 44 anos e uma filha de 2 anos. Trabalho se segunda a sábado e vez ou outra leio textos sobre a maternidade atual. Desde a gravidez acompanho vários sites, grupos e achei lindo no começo, depois na pratica fui entendendo pra quem era essa maternidade, a mãe pode até trabalhar, mas tem que ter uma "babá", tempo...enfim percebi que isso daquela forma não era pra mim...e que eu não queria isso dessa forma também, porque acho importante as coisas boas serem pra todos. Lembro que uma vez, li sobre alguma escola super bacana com uma proposta pedagogica bem legal e questionei o valor. Recebi como resposta, que é caro investir em bons profissionais para desenvolver essa escola, como se isso justificasse o preço da escola e claro, a exclusão da maioria a metodos pedagógicos melhores (no meu ponto de vista). Na epoca, não discuti, mas lendo seu texto, deu aquela vontade de ter voz de novo, falar do que penso e acredito: ESCOLA PÚBLICA, de qualidade para todos. E pela principio da equidade, que atenda aos que mais precisam com prioridade! Não li seu texto todo, confesso. Estou no trabalho, mas adorei ler muito do que penso e sinto...REALIDADE das mães trabalhadoras....Abraços

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    1. Muito obrigada, Luana, por dedicar um pouquinho do seu tempo a ler esse texto. Fico muito grata que ele tenha se encaixado pelo menos um pouco na sua realidade! É muito bom a gente encontrar outras pessoas que pensam como nós. Um grande abraço!

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  2. muito emocionada com esse texto. me identifico muito, na prática e nos questionamentos.

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  3. Amei seus questionamentos!!!amei amei.

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  4. Amei seus questionamentos!!!amei amei.

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  5. É bem essa realidade.. Para conseguirmos colocar toda essa maternagem em prática é preciso muito apoio, e dinheiro sim.
    Sou uma mãe comum, com ensino superior e pós graduação, tenho um lar amoroso, não fiz pré natal na rede pública mas nem por isso tive o parto humanizado, nos hospitais do interior isso não é uma realidade. Não temos o quarto montessoriano como queria, não temos condições no momento. Aqui o mamá ainda é em livre demanda (8 meses), mas mês q vem ja volto ao trabalho e estou na tentativa de estocar leite. O colo tbm é livre demanda mas às vezes estamos muiiito cansadas e o carrinho é a solução... Mas a livre demanda de maior orgulho que eu tenho é a do amor, essa sim vale muito e está acessível a todos.

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  6. Super concordo com o seu texto. Já havia pensado nisso mas nunca tive palavras pra explicar essa denamica. Parabéns. Só há um equívoco: dizer " O SUS, por, exemplo, ainda não conta com esse serviço", haja vista que o SUS conta com casas de parto, inclusive pari no SUS, numa casa de parto, por medo de sofrer VO em hospital particular. Fui muito bem atendida, com direito a massagem etc. Fica minha dica pro próximo parto. Beijos e amei o texto.

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    1. Oi Ane! Muito obrigada.
      O que quis dizer é que o SUS não conta com o serviço de doulas na hora do parto, isso seria muito positivo, mas infelizmente não tem ainda!
      Beijos!

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  7. Parabéns!!! Tenho 34 anos e um filho com 2 anos de idade. Formei-me em 2015 com o Alexandre no colo. Tem sido péssima a minha experiência como mãe sozinha. Foi uma luta para conseguir o parto natural sem indução e outras intervenções no SUS. Maternidade está longe do que romantizaram!

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    1. Com certeza! A romantização só nos escraviza.
      Muito obrigada!
      Beijinhos.

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  8. Emocionada demais para textão... Por hora sai daqui um tamo junto e obrigada, ��

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  9. Então... tem umas confusões no seu texto que me preocupam... Você tem razão quando aponta que esses conceitos todos não são cabem na vida de todo mundo, mas tem umas críticas que eu acho um tanto deslocadas.
    Do começo: Amamentação exclusiva: se o seu bebê foi pra UTI e tomou mamadeira na UTI (que é o que geralmente acontece), a própria instituição - a Maternidade - que deveria fazer tudo pra facilitar a amamentação te começou um problemão, chamado "confusão de bicos". Uma mãe experiente, com consultora de amamentação e com uma farta rede de apoio teria grandes dificuldades pra retornar a amamentação exclusiva. Então, se vc conseguiu voltar a amamentação exclusiva entre o fim da UTI e o retorno à faculdade, parabéns! De verdade. Se não, fique tranquila, você enfrentou um problema difícil e me parece, no seu texto, que você nem se deu conta disso.
    Depois, quando fala da creche, vem outra confusão... a rotina de tirar leite, armazenar, e levar pra creche sem derreter é realmente complicada. Possível, se o caminho até a creche for curto. Impossível, se for longo, no calor, sem carro.... Mas existem bombas eficientes bem em conta atualmente, existe a ordenha manual, existe o vidro de leite de coco que pode ser reutilizado e os vidrinhos de R$2 à venda em lojas que vendem vidros pra quem faz cosmético artesanal... Então o preço dos vidros não é um grande problema.... O grande problema, na verdade, é convencer a creche a armazenar e oferecer o seu leite, e a oferecer em copo, não em mamadeira, porque mamadeira causa confusão de bicos e aí a tendência é o que a gente chama, no meio de apoio a amamentação, de desmame precoce (antes dos dois anos)
    Aí você diz que escolheu desmamar. Foi uma decisão baseada num nível de stress que ninguém tem como ou tem o direito de avaliar, mas pelo que eu entendi, foi sim uma decisão - doída, mas sua. Bom, porque pra peito que empedra tem ordenha de alívio. (Tira um pouco de leite e joga na pia, só pra dar uma esvaziada e parar de doer.) Ainda assim, se com peito e mamadeira o bebê foi a um ano e três meses, você é uma vitoriosa. A maioria dos bebês para antes.
    Isso sobre a amamentação, que eu acho muito importante, então estudei muito, e fiz de tudo pra ter certeza que daria certo (1 ano e dois meses aqui).
    Montessori em casa, por exemplo, eu coloquei o espelho e a barra, mas os brinquedos ficam no canto mesmo e nem passou pela minha cabeça por a cama no chão ou me desfazer dos móveis de quarto que eu já tinha antes de engravidar. Isso porque Montessori é legal, mas eu não considero imprescindível, então o nível de sacríficio que eu tô disposta a realizar e limitado. Eu conheço gente que se desfez da própria cama e pôs o colchão no chão em nome do Montessori. São escolhas.
    Isso porque a gente precisa ter um olhar crítico pra, primeiro, separar o conceito - aleitamento, autonomia da criança - do consumo - móveis montessorianos projetados, vidrinhos com escala de mls escrito "leite materno". A gente vive numa sociedade de consumo e tudo é nicho de mercado então separar "o que você acha bacana fazer" de "as soluções que o mercado poe a venda pra você fazer", e precisa ter uma noção do que é real e o que é irreal, mas sem precisar jogar os conceitos todos fora. Você pode não praticar criação com apego 100% do tempo, mas se você acredita que a criação com apego é importante você pratica no resto do tempo, e orienta quem for ficar com ela nesse sentido. Agora, se você não acredita que criação com apego seja imprescindível, então não tem porque sofrer por isso. Não faz e ponto.

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    1. E você pode mudar de ideia também. Eu, particularmente, mudei de ideia quanto ao BLW. Não quanto a ser possível, mas quanto a ser necessário. Hoje o BLW fica pra mim no mesmo lugar do Montessori: é legal, mas não é o principal.... se não der, beleza....
      Aí você entra num discurso sobre as mães faveladas que eu achei bem complicado. Isso porque, se a pessoa não tem autonomia pra pregar uma prateleira na parede, o problema não é que montessori é irreal, o problema é que essa pessoa não tem autonomia nenhuma sobre a própria casa. Se o problema é que a pessoa não consegue comprar nada além de salsicha e mortadela pra dar pra um bebê, o problema não é que alimentação natural é irreal, o problema é que essa família passa fome. E nenhuma família deveria passar fome.
      A minha filha nasceu na Casa Angela, que é um centro de parto humanizado que nasceu pra atender o pessoal da Favela do Monte Azul, na comunidade do Jd São Luiz. A Lia nasceu lá graças a um convênio com o SUS, porque antes ou você era da comunidade ou tinha que pagar particular.
      Eu também sou mãe solo, mas uma mãe solo particularmente de sorte. Sou funcionária pública, então tive os 180 dias da licensa + 30 de férias; tenho emprego fixo, casa própria e o pai da minha filha é presente na vida dela. Mas eu conheço muita gente lá da Casa Angela com muito menos estrutura que eu se virando do avesso pra fazer o que dá dentro daquilo que acredita. Gente que todo dia joga fora as chupetas que a família teima em comprar, gente que não pode virar as costas que enfiam pirulito na boca do bebê que ainda está em aleitamento exclusivo, então eu acho que tem uma parte de "não podemos romantizar esses conceitos de maternagem", tem uma parte de "o mercado vende esses conceitos e vende caro, e tenta - sim, o mercado sempre tenta - nos convencer de que somos mães terríveis se não comprarmos tudo o que aparece pela frente, seja em bens materiais, em serviços ou em idéias", e tem também um tanto de "o que eu acredito, quanto eu acredito e quanto eu estou disposta a me esforçar por isso" - e me perdoe se eu estiver errada, mas a impressão que eu tenho é que você não acreditou o suficiente pra tentar por em prática mas também não quis bater de frente e dizer "tudo isso é bobagem", então achou melhor dizer que é impossível.
      Além disso, claro, tem outra lutas, pra que as licensas maternidades sejam de 180 dias pra todo mundo e estendidas em caso de uti neonatal ou prematuridade, pra ninguém passar fome, etc...

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